A chuva segue caindo e bate no parapeito da janela. O cheiro, o frio, o mato molhado criam purpurinas que ornam a poesia natural do momento. O lençol está emaranhado e o corpo ao lado descansa. A mim, só resta manter os olhos e os sentidos completamente escancarados pra não perder nenhum detalhe. Nenhum pingo que cai (porque a chuva nada mais faz do que purificar), nenhum roçar de lençol (porque arrepios nem sempre são passageiros), nenhum cheiro (porque quando te cheiro não é pra sentir teu perfume, é pra te trazer um pouco mais pra dentro de mim).
Essa cidade respira carnaval e eu, andando por aí quase como quem dança, vejo cores que nunca vi, sonho flores que nunca senti. Como se o chão caminhasse por minhas pernas. Como se a qualquer passo eu corresse o risco maior da queda. Porém o medo de quebrar o nariz é rapidamente substituído por tuas palavras no visor do celular. Sou feita de coca light, o gás escala ladeiras.
Olho pro Cristo como se ele fosse se atirar assim, de braços abertos, sobre a Baia de Guanabara. Mas chove. Não é dia pra isso. Olho pra mendigos como se fossem sorrir pra mim, mas é frio. Olho pro chão como se tudo fosse uma festa, mas são só as serpentinas do pré carnaval de Ipanema. Tiro os sapatos. É preciso ter cautela ao pisar em terreno desconhecido. É preciso aguçar os sentidos pra sentir o piso.
Chego a casa. Espio pelo buraco da fechadura. A luz acesa, a TV ligada, vozes que não conheço. Volto pra rua. De pés descalços largo a bolsa (antes acendo um cigarro). Jogo longe o guarda chuvas (peso demais carregar um telhado pra não se molhar). Tiro o casaco e sigo pro mar. Mesmo sem pôr do sol, mesmo sem calor, mesmo sem barraca, cadeira e biscoito globo, me atiro, de olhos fechados sem saber nadar.
Essa cidade respira carnaval e eu, andando por aí quase como quem dança, vejo cores que nunca vi, sonho flores que nunca senti. Como se o chão caminhasse por minhas pernas. Como se a qualquer passo eu corresse o risco maior da queda. Porém o medo de quebrar o nariz é rapidamente substituído por tuas palavras no visor do celular. Sou feita de coca light, o gás escala ladeiras.
Olho pro Cristo como se ele fosse se atirar assim, de braços abertos, sobre a Baia de Guanabara. Mas chove. Não é dia pra isso. Olho pra mendigos como se fossem sorrir pra mim, mas é frio. Olho pro chão como se tudo fosse uma festa, mas são só as serpentinas do pré carnaval de Ipanema. Tiro os sapatos. É preciso ter cautela ao pisar em terreno desconhecido. É preciso aguçar os sentidos pra sentir o piso.
Chego a casa. Espio pelo buraco da fechadura. A luz acesa, a TV ligada, vozes que não conheço. Volto pra rua. De pés descalços largo a bolsa (antes acendo um cigarro). Jogo longe o guarda chuvas (peso demais carregar um telhado pra não se molhar). Tiro o casaco e sigo pro mar. Mesmo sem pôr do sol, mesmo sem calor, mesmo sem barraca, cadeira e biscoito globo, me atiro, de olhos fechados sem saber nadar.