terça-feira, 1 de abril de 2008

A beleza do Rio ou o dia em que a menina se viu.



Eram muitas pessoas. Bebiam e sorriam dentro de rostos Mac e batons chanel. A menina também, bebia e sorria borrando o batom. Abraços e promessas, beijos sem compromisso, lanchas e passeios em campos de golfe. Zero sentido. "seu vestido é lindo, seu cabelo está horrível, essa é a música que você tem que ouvir, dance assim, coma isto, suba no salto mesmo que te cause bolhas e dor, puxa o cabelo, use muito ouro nessa estação, creme anti-rugas, sorria na foto mesmo que esteja triste, clareie os dentes, brinde, não coma, seja magra, seja linda, tenha 18 anos sempre!"

E a menina olhava pro mar sem conseguir entender seu brilho.

Apertos de mãos frias não fazem sentido. Congelam as veias podendo causar uma parada total do músculo central, que pulsa, fraco. E na última festa do ano, enquanto caminhava sozinha, as 6h da manhã com o sol a nascer sobre o mar de Ipanema, a menina chorou. Que 2008 venha como o sol, quente, brilhante, intenso.

E logo em janeiro a menina beijou. Era como um beijo de filme, alguém gritava corta. Tarde demais pra um coração cansado de sofrer. Do set veio o jantar, a peça, o filme, o cirque du soleil, o vinho e as tardes lindas de chuva sobre o colchão. A menina descabelada, sem maquiagem, havaianas nos pés e o abraço mais quente da pele mais macia. E como se todo o aconchego não bastasse, a menina seguiu esbarrando em corações intensamente cheios de vida e verdade. Alguns já tão especiais na vida dela. A escritora que a fez chorar (D), o ator que a fez sorrir (C) o diretor que a fez sentir (T), o ator/tradutor/diretor (F) que lhe devolveu esperança. E ele, sempre ele, montado na bicicleta entre curvas e esquinas (mal sabe que tem asas, não precisa de artifícios pra voar), lhe devolveu o coração embrulhado carinhosamente num pote de Haagen-Daz.

Hoje, enquanto voltava pra casa, na mesma orla de Ipanema, com o mesmo sol intenso, quente, brilhante, ela sorriu e entendeu o maior de todos os sentidos. A beleza do Rio não é Ipanema, o Cristo, a floresta... é poder sentir-se pela primeira vez em um lugar seu, plena de sentidos, sem carcaças.

A menina agradece.