segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Marinas e maçãs.


“Marina caminha o que sempre caminha todos os dias. Cercada de maçãs sente o cheiro doce, mais do corpo do que da fruta. Mais suor do que sabor. Marina, que sempre acreditou que a felicidade estava no lar, tem medo de abrir a porta e encontrar Antônio. Tem medo de nunca mais poder olhar em seu rosto com a alegria e o aconchego que sempre tivera olhado. Ela, em seu caminho de 88 passos até a fechadura, pergunta-se até onde vale a pena esses momentos tão cheios de prazer que viveu com Pedro. Pergunta se o cheiro, o gosto e a calcinha levemente apertada valem a pena. Pergunta também se o que acredita vale mais do que o que sente agora. Decide, no tempo de um piscar de olhos, tirar os sapatos e pisar no chão de terra. Larga a bolsa, solta os cabelos e sente o vento entrar pelos fios até arrepiar a nuca. Sente novamente o cheiro. Toca levemente com a ponta dos dedos as folhas das macieiras que estão ao alcance de suas mãos. Já não anda mais em linha reta, caminha um passo torto, rodopia, pula, permite-se a loucura. Marina já não pensa. Marina simplesmente deixa os olhos inundarem e sorri largamente, um sorriso feio de tão aberto, mais de gengiva, mais de saliva. Marina quer se perder nos 38 passos que restam até a porta e, no abrir de olhos, vê Antônio com um olhar curioso. Ele não enxerga a esposa que tece, costura e chega com os braços cansados dos repetidos movimentos da máquina. Na verdade se assusta com uma desconhecida que se deixa voar com o vento e a cor vermelha das maçãs.”


Trecho de uma história qualquer, que vai virar um longa qualquer, qualquer dia por aí.Trabalhando no argumento.Obrigada aos visitantes e comentários.

Beijos.

9 comentários:

Anônimo disse...

tenho certeza q não será um longa "qualquer". Teus textos sempre cheios de texturas e sentidos (nos 2 sentidos da palavra)Mt bons de ler, fazem bem, afloram sentimentos perdidos...não vejo a hora de assistir as tuas palavras Paulette! Beijo!

Giselle Hostert disse...

Eu até me arrepio com suas palavras. Quizera eu saber descrever tão bem cada detalhe, cada sentimento.Tu apavoraaa Paula
bjusss

Jaguarito disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Jaguarito disse...

Penso que, assim como diz Machado Assis, Marina é uma daquelas maçãs que estão no topo da árvore, mas que nesse dia, resolveu, de olhos fechados, fazer parte do mundo das maçãs mais acessíveis.
Mesmo assim, ela ainda está no topo com todos os seus sentidos e sentimentos. Subjetivos e superiores.

Antônio não sabe a mulher que tem, pois não é atrevido assim como Pedro, provavelmente, foi...não há nada de errado com ela, mas com ele....

E lá em cima da macieira, lá no topo, Paula observa sua vizinha Marina.

beijos

Unknown disse...

Romântica...
Gosto do texto e da mudança brusca que ele me causa. Quando penso que vai por uma viagem de palavreado bonito ele me expçõe a personagem muito real e cotidiana, gosto muito disso.
Esse trecho me dá vontade de saber mais. Curioso!
bjs

Daniel Olivetto disse...

que liiiinnnn... ô vida maluca essa da Marina... e da Alzira... e do Mani... e da gente tudo né?

saudades sempre

beijocas

Daniel Olivetto disse...

Alzira voltou no blog!

Quando tu vem cachorrona??

beijocón
(menina que carnavalhación!!!)

Rafael Koehler disse...

Oi...

Passando para ler sobre Marina!

bjs...

Anônimo disse...

Um bom texto para ler em qualquer parte do dia. ;) Bjs Bella.